Série 1 - Do Dever ao Deleite: Quando a Devoção se Torna um Prazer | Devocional
- Flávio Macieira
- há 6 horas
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Por: Pastor Flávio Macieira
Capítulo 6
Do Dever ao Deleite

A construção do muro é essencial, mas um muro, por si só, não faz um jardim florescer. Apenas o protege. Da mesma forma, a disciplina de proteger nosso tempo com Deus é a estrutura necessária, mas não é o objetivo final. O verdadeiro milagre acontece quando a alma, protegida dentro desses muros, começa a transitar do senso de dever para a busca do deleite. É a passagem crucial de ver a comunhão com Deus como algo que temos que fazer para algo que temos o privilégio de fazer. É aqui que a resolução de perseverar não nasce mais da força de vontade, mas de um coração cativado.
Por muito tempo, a tradição evangélica flertou com um estoicismo que via o dever como a mais alta virtude e suspeitava do prazer. Mas essa não é a imagem completa do Evangelho. John Piper, em seu conceito de "hedonismo cristão", nos oferece uma verdade libertadora e profundamente bíblica: "Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos Nele". Esta frase vira a nossa motivação de cabeça para baixo. A busca por alegria em Deus não é um ato egoísta; é o ato de adoração mais fundamental. Deus não é honrado por nossa obediência relutante e sisuda. Ele é exaltado quando O encontramos como a fonte de todo o nosso prazer.
Pense na transição de um casamento arranjado, baseado no dever e no contrato, para um relacionamento de amor apaixonado. No início, as interações podem ser corretas, respeitosas, mas mecânicas. Ambos cumprem suas obrigações. Mas quando o amor floresce, tudo muda. O desejo de estar junto não nasce mais da obrigação, mas da saudade. A conversa não é um item a ser cumprido na agenda, mas o ponto alto do dia. O dever se transforma em deleite. É exatamente esta a jornada que o Espírito Santo deseja operar em nosso oásis secreto. Ele quer nos levar de um relacionamento contratual com a disciplina espiritual para um romance de amor com o Deus da disciplina.
Quando isso acontece, a natureza do nosso tempo a sós com Deus se altera radicalmente. A leitura da Bíblia deixa de ser uma "obrigação profissional" e volta a ser um encontro com o Amado. A oração deixa de ser uma lista de petições e se torna uma conversa sincera. O silêncio deixa de ser um vazio a ser preenchido e se torna um espaço de comunhão. A resolução de buscar a Deus diariamente não é mais alimentada pela culpa de um dia perdido, mas pela fome de um dia sem Ele.
Este é o ponto onde a esperança se solidifica em resolução. A decisão de se levantar mais cedo ou de desligar o mundo não é mais um sacrifício amargo, mas a escolha óbvia de quem descobriu um tesouro escondido no campo. É vender tudo o que temos, não com tristeza, mas com alegria incontida, para possuir aquele campo. O convite para hoje é menos uma ação e mais uma oração. É um pedido sincero para que o Espírito Santo faça essa cirurgia em nosso coração. É pedir a Ele que transforme a nossa percepção da devoção, que nos dê um vislumbre do deleite que nos aguarda, para que possamos correr para o lugar secreto não porque devemos, mas porque simplesmente não conseguimos mais viver longe dele.










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