Por que nossos relacionamentos estão tão difíceis? (Leia um trecho do Livro 2)
- Flávio Macieira
- 29 de nov.
- 6 min de leitura

É com imensa alegria e o coração cheio de expectativa que anuncio o lançamento oficial do meu novo livro: "Amar com Humildade" (Série Alegria Radical - Volume 2).
Se o primeiro livro da série foi sobre como ficar de pé diante das crises, este segundo volume é sobre ter a coragem de se curvar para servir. Escrevi estas páginas pensando em cada um de vocês que sente o peso da desunião — seja em casa, na igreja ou no ambiente de trabalho.
Para celebrar este lançamento, decidi liberar aqui no blog, na íntegra, a Introdução e o Primeiro Capítulo da obra.
Espero que esta leitura traga cura para os seus relacionamentos e paz para a sua alma hoje mesmo.
Boa leitura!
PALAVRA AO LEITOR
A Epidemia do "Eu"
Você já notou como o mundo parece estar gritando o tempo todo?
Abra qualquer rede social, ligue a televisão ou sente-se em uma mesa de reunião, e a sensação é a mesma: todos querem falar, mas ninguém quer ouvir. Todos querem ter razão, mas ninguém quer pedir desculpas. Vivemos na era da autopromoção, onde a regra número um é defender o nosso território, proteger a nossa imagem e garantir que a nossa voz seja a mais alta da sala.
O resultado desse barulho ensurdecedor é que estamos exaustos.
Manter o "eu" no centro do universo dá um trabalho enorme. Exige uma energia colossal para monitorar quem nos ofendeu, quem não nos deu o crédito devido, quem está nos ultrapassando e quem precisa ser corrigido. Nossos relacionamentos — em casa, na igreja e no trabalho — estão se tornando campos de batalha minados, onde pisamos com medo de explodir a próxima crise.
Foi pensando nessa fadiga relacional que decidi escrever este segundo volume da série Alegria Radical.
Quando chegamos ao capítulo 2 de Filipenses, o apóstolo Paulo muda o tom. Ele deixa de falar sobre as prisões de Roma e começa a falar sobre as prisões do coração. Ele sabia que a maior ameaça à igreja não era a perseguição do Império Romano lá fora, mas a vaidade e a desunião aqui dentro.
A proposta deste livro é perigosa.
Ela é perigosa porque vai contra tudo o que a nossa cultura nos ensina. O mundo diz: "Suba. Conquiste. Destaque-se." Paulo, apontando para Jesus, diz: "Desça. Esvazie-se. Sirva."
Nestas páginas, vamos explorar o conceito revolucionário da humildade cristã. Não a humildade falsa de quem se acha um lixo, mas a humildade robusta de quem é tão seguro em Deus que não precisa mais provar nada para ninguém. Vamos olhar para a "Mente de Cristo" e descobrir que o caminho para a verdadeira glória não é uma escada para cima, mas uma descida voluntária em direção ao outro.
Se você está cansado de competir, se seus relacionamentos precisam de cura ou se você simplesmente quer descobrir o alívio de não ser o centro das atenções, este livro é para você.
Respire fundo. Vamos juntos aprender a arte esquecida de pensar menos em nós mesmos e, finalmente, encontrar a paz que só existe quando o ego sai do trono.
Bem-vindo à revolução da humildade.
CAPÍTULO 1
O Fim da Rivalidade
(Baseado em Filipenses 2:1-2)
Existe um silêncio muito específico e doloroso: o silêncio que fica no ar logo após uma discussão acalorada.
Você conhece esse clima? É quando as palavras duras já foram ditas, a porta foi batida e cada um se retirou para o seu canto, entrincheirado em suas próprias razões. O coração bate rápido, a mente repassa os argumentos ("eu deveria ter dito isso!") e uma barreira invisível, mas espessa como concreto, se levanta entre nós e a pessoa que deveríamos amar.
A desunião é exaustiva. Ela drena nossa alegria, rouba nosso sono e transforma a igreja (ou a casa) em um lugar onde pisamos em ovos.
A igreja de Filipos estava vivendo exatamente isso. Embora fosse uma igreja generosa e missionária, havia uma rachadura na estrutura. Duas líderes influentes, Evódia e Síntique, estavam em guerra, e essa tensão estava contaminando todo o corpo. Havia "partidarismo" e "vanglória" no ar.
É nesse cenário tenso que Paulo entra, não com um chicote, mas com um espelho.
Nos versículos 1 e 2 do capítulo 2, ele constrói um dos argumentos mais lógicos e afetuosos de toda a Bíblia para nos convencer a parar de brigar. Ele não diz simplesmente: "Parem com isso, é feio!". Ele sabe que a moralidade não cura o ego. Em vez disso, ele nos convida a fazer um inventário espiritual.
Ele começa com quatro perguntas retóricas, quatro "Se...":
“Se há, pois, alguma exortação em Cristo, algum consolo de amor, alguma comunhão do Espírito, se há profundos afetos e sentimentos de compaixão...”
Aqui, precisamos de um pequeno ajuste nas nossas lentes de leitura. Em português, a palavra "Se" soa como dúvida. Parece que Paulo está perguntando: "Eu não sei se vocês têm isso, mas se tiverem...".
Mas no grego original, a estrutura gramatical é diferente. É o que os estudiosos chamam de "condição de primeira classe". Significa que Paulo não está levantando uma hipótese; ele está afirmando uma realidade. O sentido real é: "JÁ QUE...".
Ele está dizendo: "Já que vocês receberam encorajamento de Cristo... Já que vocês experimentaram o consolo do amor dEle... Já que vocês têm a comunhão do Espírito... Então, ajam de acordo!"
Paulo está nos mostrando que a base para a nossa união com pessoas difíceis não é a afinidade natural ("nós torcemos para o mesmo time"), mas a experiência espiritual comum.
Pense comigo: se eu fui um pecador miserável e Cristo me acolheu com "profundos afetos e compaixão" quando eu não merecia, como posso eu olhar para o meu irmão e negar a ele essa mesma compaixão? A rivalidade entre cristãos é, no fundo, uma crise de amnésia. Nós brigamos porque esquecemos o quanto fomos perdoados.
O Pedido Pessoal de um Prisioneiro
Depois de estabelecer essa base teológica ("vocês têm recursos de sobra"), Paulo faz um apelo emocional que desarma qualquer defesa:
“...completem a minha alegria, de modo que pensem a mesma coisa, tenham o mesmo amor, sejam unidos de alma, tendo o mesmo sentimento.”
Imagine o velho apóstolo na prisão. Ele já tem dores suficientes — as correntes, a idade, a ameaça de morte. A única coisa que poderia, humanamente falando, aliviar o peso de sua alma seria saber que seus "filhos na fé" estão vivendo em paz.
Ele pede: "Não me deem mais motivos de tristeza. Completem o copo da minha alegria."
E então ele define o que é essa união. Note que ele não pede "uniformidade". Ele não diz que todos devem gostar das mesmas músicas, votar nos mesmos candidatos ou ter a mesma personalidade. Isso seria robótica, não unidade.
Ele pede que tenham "o mesmo amor" e sejam "unidos de alma".
A expressão "unidos de alma" (sumpsuchoi) é lindíssima. Significa "respirar junto". É a imagem de dois pulmões trabalhando no mesmo tórax, ou de dois viajantes que acertam o passo para caminharem no mesmo ritmo. É uma decisão intencional de alinhar os afetos.
A cura para a rivalidade começa quando paramos de olhar para as nossas diferenças de opinião e começamos a olhar para o nosso objeto de amor comum: Jesus.
C.S. Lewis usava uma ilustração brilhante sobre isso. Ele dizia que instrumentos musicais só conseguem estar afinados uns com os outros se, primeiro, estiverem afinados com o diapasão mestre. Se cada instrumento tentar se afinar olhando para o vizinho, o resultado será cacofonia. Mas se o violino se afina com o Mestre, e o violoncelo se afina com o Mestre, eles inevitavelmente estarão afinados entre si.
Se você está em conflito com alguém hoje — seja seu cônjuge, um colega de trabalho ou um irmão da igreja —, o primeiro passo para a paz não é focar na pessoa e nos defeitos dela. O primeiro passo é olhar para cima e lembrar dos "profundos afetos" que você recebeu de Cristo.
Quando o seu tanque de amor está cheio do consolo de Deus, você para de mendigar aprovação dos outros. E quando você para de mendigar, você para de competir. A rivalidade morre de fome quando a alma está satisfeita em Deus.
Paulo está nos dizendo: "Larguem as armas. Vocês são irmãos. Vocês beberam da mesma fonte. Façam o meu coração feliz: vivam como a família que vocês são."
A guerra acabou. A graça venceu. Vamos viver como pacificadores.
Senhor, confessamos que muitas vezes nosso ego fala mais alto que a Tua graça. Temos sido rápidos em julgar e lentos em perdoar. Esquecemos que fomos acolhidos por Ti quando éramos inimigos. Obrigado porque em Cristo temos consolo, amor e comunhão. Que essas verdades encham nosso coração de tal maneira que transbordem em paciência para com os outros. Queremos completar a alegria dos nossos líderes e, acima de tudo, a Tua alegria, vivendo em união de alma. Quebra nossa rigidez e afina nosso coração com o Teu. Em nome de Jesus, Amém.
Gostou deste trecho?
Esta foi apenas a introdução de uma jornada profunda. No livro completo, vamos mergulhar na "Mente de Cristo", entender o esvaziamento da cruz e aprender com exemplos práticos como Timóteo e Epafrodito.
O livro "Amar com Humildade" já está disponível na Amazon (Ebook e Capa Comum).

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Que Deus abençoe sua leitura e traga a paz que excede todo o entendimento para os seus relacionamentos!
Pr. Flávio Macieira










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