Você se sente preso, mesmo com a porta destrancada? (Leia um trecho exclusivo)
- Flávio Macieira
- 27 de nov.
- 7 min de leitura

É com imensa alegria e o coração cheio de expectativa que anuncio o lançamento oficial do meu novo livro: "Viver com Propósito" (Série Alegria Radical).
Escrevi estas páginas pensando em cada um de vocês que, em algum momento, já se sentiu sufocado pelas circunstâncias — seja uma crise financeira, um problema de saúde ou aquela ansiedade silenciosa que nos visita nas madrugadas.
Para celebrar este momento, decidi liberar aqui no blog, em primeira mão, as páginas iniciais da obra. Espero que esta leitura abençoe seu dia e acenda uma nova esperança em seu coração.
Boa leitura!
PALAVRA AO LEITOR
Por que precisamos aprender a cantar no escuro
Você já se sentiu preso, mesmo com a porta da rua destrancada?
Eu sei como é. Às vezes, as grades não são feitas de ferro romano, mas de contas que não fecham, de um diagnóstico médico que nos rouba o sono, ou daquela ansiedade silenciosa que aperta o peito domingo à noite. Nós olhamos ao redor e, embora o corpo esteja livre, a alma parece acorrentada a uma circunstância que não escolhemos.
É exatamente aqui que nossa jornada começa.
Gostaria de convidar você a fazer uma viagem no tempo comigo. Vamos voltar cerca de dois mil anos, para uma cela úmida e escura. Lá dentro, um homem idoso, com as costas marcadas por chicotadas e os pulsos feridos por algemas, está escrevendo uma carta. Pela lógica humana, aquele papiro deveria estar manchado de lágrimas de autopiedade ou rabiscado com pedidos de vingança contra o Império.
Mas, ao lermos o texto, encontramos algo que desafia a razão.
Aquele prisioneiro, o apóstolo Paulo, fala sobre "alegria" e "regozijo" mais de dezesseis vezes em apenas quatro capítulos curtos. Como isso é possível? Será que ele estava delirando? Havia perdido o contato com a realidade?
Não. Paulo havia descoberto um segredo.
Ele descobriu que a alegria não é a ausência de problemas; é a presença de Alguém. Ele entendeu que a felicidade depende do que acontece fora de nós, mas a alegria cristã depende apenas de quem vive dentro de nós.
Escrevo estas páginas para nós — sim, para mim e para você — que muitas vezes nos sentimos sufocados pela pressão da vida moderna. Vivemos na era do conforto, mas nunca estivemos tão descontentes. Temos milhares de seguidores virtuais, mas nos sentimos sozinhos.
O que vamos explorar juntos neste livro (e na série Alegria Radical) não é um conjunto de regras religiosas para nos deixar mais cansados. Pelo contrário. É um convite para vivermos com um propósito tão inabalável que nem mesmo a pior "prisão" da vida consiga nos calar.
A carta aos Filipenses é o manual de sobrevivência de Deus para tempos caóticos. Ela nos ensina que, quando não podemos mudar o que acontece ao nosso redor, Deus pode mudar o que acontece dentro de nós.
Respire fundo. Acomode-se. Vamos abrir essa carta antiga e descobrir que ela foi escrita, na verdade, para o nosso hoje.
Sua liberdade começa agora.
CAPÍTULO 1
De Escravos a Santos
Você já parou para pensar em como nós nos apresentamos hoje em dia?
É um exercício fascinante e, às vezes, um pouco assustador. Dê uma olhada rápida na biografia do Instagram de qualquer pessoa, ou no perfil do LinkedIn. O que vemos é quase sempre uma vitrine de conquistas: "CEO da empresa X", "Pai de dois filhos lindos", "Maratonista", "Mestre em Engenharia", "Influenciador".
Nós construímos nossa identidade com tijolos feitos daquilo que conquistamos, do que possuímos ou de quem superamos. É como se gritássemos para o mundo: "Olhem para mim! Eu sou importante por causa dessas medalhas no meu peito!"
E então, abrimos a Carta aos Filipenses e o contraste nos deixa desconcertados.
Esperamos que o maior teólogo da cristandade, o homem que enfrentou o Sinédrio e desafiou o Império, comece sua carta com suas credenciais mais impressionantes. Ele tinha direito a isso. Poderia ter escrito: "Paulo, Apóstolo escolhido a dedo pelo Ressurreto", ou "Paulo, Cidadão Romano e Doutor da Lei".
Mas o texto diz outra coisa. Se lermos rápido demais, perderemos o choque inicial que fez a igreja de Filipos prender a respiração na primeira linha:
"Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus..."
Aí está. A primeira picareta quebrando o concreto do nosso ego. Antes de ser qualquer outra coisa, Paulo define a si mesmo — e inclui o jovem Timóteo no mesmo nível — com uma palavra que, na cultura romana, era sinônimo de vergonha, mas que no Reino de Deus é o ápice da honra.
Precisamos ser honestos sobre o peso dessa escolha. Eu sei que a palavra "servo" em nossas traduções modernas soa quase poética, talvez lembrando um mordomo inglês educado ou um funcionário público dedicado. Mas o termo que Paulo escolheu no grego original, doulos, não tem nada de poético.
No primeiro século, um doulos não era um funcionário com carteira assinada. Era propriedade de outra pessoa. Ele não tinha direitos, nem vontade própria. Sua vida existia exclusivamente para satisfazer os desejos de seu mestre. Para um cidadão romano em Filipos, ser chamado assim era o insulto supremo; significava que você não era dono do seu próprio nariz.
Por que, então, Paulo veste essa "camisa de força" voluntariamente?
Porque ele entendeu o grande paradoxo da liberdade humana: fomos projetados para obedecer. A questão nunca é se vamos servir a alguém, mas a quem vamos servir.
Nós gostamos de pensar que somos livres, capitães da nossa alma. Mas seja honesto consigo mesmo agora, na privacidade desta leitura: quantas vezes você obedeceu ao impulso de comprar algo que não precisava? Quantas vezes se curvou diante do medo da opinião alheia? Quantas vezes a ansiedade ditou sua agenda? Se não somos servos de Cristo, acabamos escravos de tiranos muito cruéis: nosso ego, nossa conta bancária ou nossa reputação.
Paulo está nos dizendo: "Eu encontrei a verdadeira liberdade ao me tornar propriedade exclusiva de um Mestre que me ama tanto a ponto de morrer por mim."
Contudo, se essa primeira palavra nos joga no chão, a sequência do versículo nos eleva aos céus. Veja para quem ele escreve: "...a todos os santos em Cristo Jesus..."
Aqui, precisamos desfazer uma confusão histórica. Quando ouvimos "santo", nossa mente — condicionada por séculos de arte religiosa — imediatamente imagina pessoas falecidas, com auréolas douradas e uma biografia moralmente impecável. Pensamos em uma elite espiritual inalcançável. Mas Paulo está escrevendo para gente viva. Gente como o carcereiro que se converteu no meio de um terremoto, ou como a vendedora Lídia. Gente com defeitos, rotinas e boletos. Gente como eu e você.
Como ele ousa nos chamar de santos?
A beleza está no significado original da palavra. Ser santo não significa ser "moralmente perfeito"; significa ser "separado". Pense na escova de dentes que você tem no banheiro. Ela não é feita de ouro; é de plástico simples. Mas ela é "santa" para você. Por quê? Porque ela é separada exclusivamente para o seu uso. Você não a usa para limpar o azulejo. Ela pertence à sua boca.
Essa é a essência da nossa identidade. Você não se torna um santo depois que melhora seu comportamento. Você é declarado santo no momento em que Cristo o separa para Ele. A mudança de vida é a consequência, não a causa. Muitos de nós vivemos esmagados pela culpa porque invertemos essa ordem, acordando todos os dias pensando que precisamos ser bons para que Deus nos aceite. O Evangelho inverte o jogo: você já foi aceito; agora, vá e viva de acordo com essa nova realidade.
Essa nova identidade, porém, precisa sobreviver em um lugar real. Paulo diz que esses irmãos estão em dois lugares ao mesmo tempo: "em Filipos" e "em Cristo Jesus".
Isso não é apenas um endereço de correspondência; é a definição da nossa tensão diária. Filipos era uma colônia romana orgulhosa, onde se vivia sob as leis e os costumes de César. Paulo usa essa realidade para nos ensinar sobre nossa "dupla cidadania".
Nós vivemos a mesma tensão. Seu corpo está em uma cidade deste mundo — com seu trânsito, seus impostos e suas doenças. Você está "em Filipos". Mas sua alma, sua essência vital, está ancorada "em Cristo". Tim Keller costumava dizer que o cristão é como um anfíbio: conseguimos viver na terra, mas precisamos da água para sobreviver. Se tentarmos focar apenas na política, na economia e no sucesso terreno, nossa alma seca.
Isso muda radicalmente a forma como encaramos as crises. Se você perde o emprego "em Filipos", dói. Mas sua posição "em Cristo" permanece inalterada. Você continua sendo um servo amado, um santo separado, herdeiro do Universo. Quando nossa identidade está ancorada apenas no endereço terreno, qualquer terremoto nos destrói. Quando está ancorada no endereço celestial, podemos perder tudo aqui embaixo e ainda assim permanecermos inteiros.
E note que Paulo não faz essa jornada sozinho. O versículo começa com "Paulo e Timóteo". Ele não precisava incluir o nome do jovem discípulo. A autoridade era dele. Mas a verdadeira grandeza no Reino sempre abre espaço para o outro. A identidade segura em Cristo nos cura da necessidade de sermos o centro das atenções e nos faz puxar a cadeira para que outros se sentem à mesa conosco.
Então, voltamos à pergunta inicial: Quem é você?
Se você tirar seu crachá, seu diploma, seus seguidores e até mesmo a sua reputação religiosa, o que sobra?
Minha oração é que, ao final destas páginas, você possa se olhar no espelho e dizer, com um sorriso de alívio: "Eu não sou o que faço. Eu não sou o que tenho. Eu sou, gloriosamente, um escravo de Jesus e um santo separado pelo Pai."
Essa é a âncora. As ondas na superfície podem estar altas, mas a âncora está presa na Rocha. E a Rocha não se move.
Senhor, estamos cansados de tentar construir nomes para nós mesmos. Estamos exaustos de polir máscaras para que o mundo nos aplauda. Hoje, queremos apenas o alívio de pertencer a Ti. Obrigado por nos chamares de santos, mesmo quando nos sentimos tão falhos. Ensina-nos a viver com os pés na terra, mas com o coração no céu. Que a nossa escravidão a Ti seja a nossa mais perfeita liberdade. Em nome de Jesus, Amém.
Gostou deste trecho?
Esta foi apenas a introdução de uma jornada profunda através do capítulo 1 de Filipenses. No livro completo, exploramos como ressignificar o sofrimento, como vencer o medo da morte e como encontrar paz em meio ao caos.
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Que Deus abençoe sua leitura e transforme suas prisões em púlpitos!
Pr. Flávio Macieira










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