Quando a 'Lógica' Fere
- Flávio Macieira
- 12 de abr.
- 4 min de leitura
Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

Cuidado com a lógica que parece impecável, mas esconde um coração sem compaixão.
"Não é grande a sua maldade? Não são infindos os seus pecados?" (Jó 22:5 NVI)
Introdução:
Há momentos em nossa caminhada em que a dor é tão profunda, a confusão tão densa, que as palavras bem-intencionadas de amigos parecem ricochetear em nossa alma como pedras, ou pior, soar como sal numa ferida aberta. Você já se sentiu assim? Cercado por vozes que tentam explicar ou diagnosticar seu sofrimento, quando tudo que seu coração realmente anseia é por um bálsamo de compreensão, por uma presença que simplesmente diga "estou aqui"?
Foi exatamente esse o sentimento que Jó expressou diante de Elifaz, que em seu terceiro discurso (Jó 22), desfere acusações diretas, baseadas numa lógica teológica que parece um mapa perfeito, mas que ignora os vales profundos do sofrimento humano. Esta passagem nos alerta sobre o perigo de usarmos a "lógica" como arma, ferindo em vez de curar.
Elifaz começa com uma premissa sobre a transcendência divina (v. 1-4): nossa justiça não beneficia a Deus, logo, Ele só agiria para punir a maldade. Embora contenha uma faísca de verdade sobre a autossuficiência de Deus, essa lógica é fria como um esqueleto despojado de sentimento. Ela apaga o brilho do relacionamento, o deleite que Deus tem na comunhão com Seus filhos, a Sua tristeza pelo pecado que nos afasta Dele. Ao reduzir tudo a um esquema judicial, Elifaz pavimenta o caminho para sua acusação cruel.
É então que ele dá o salto perigoso no abismo da presunção (v. 5-9). A equação em sua mente é simples e terrível: Sofrimento extremo = Pecado extremo. E como não há provas contra Jó, Elifaz as inventa, como um pintor que preenche uma tela em branco com monstros de sua própria imaginação. Ele acusa Jó de explorar os pobres, negar ajuda, abusar de viúvas e órfãos – pecados sociais graves, lançados como flechas atiradas na escuridão, buscando um alvo presumido na dor de Jó.
Que perigo devastador! Construir acusações sobre o sofrimento alheio, usando Deus como justificativa, é transformar a fé em um instrumento de tortura. Quantas vezes, talvez com menos intensidade, nossa própria mente não corre para buscar "culpados" quando vemos a dor, em vez de correr para oferecer consolo?
A conclusão de Elifaz, inevitável dentro de sua lógica distorcida (v. 10-11), é que o sofrimento de Jó (laços, pavor, trevas) é a prova irrefutável do pecado que ele acabou de inventar. É um círculo vicioso de julgamento que esmaga Jó sob o peso de acusações falsas. Suas palavras funcionam como torniquetes, apertando ainda mais o coração que já sangra, oferecendo "lógica" onde Jó precisava desesperadamente de empatia. A Escritura, porém, nos adverte contra essa postura: "Mas quem é você para julgar o seu próximo?" (Tiago 4:12b NVI). Somente Deus conhece o coração e os Seus propósitos soberanos.
A dura lição do erro de Elifaz ecoa até hoje. Precisamos desconfiar de explicações simplistas para o sofrimento e resistir à tentação de julgar com base em aparências ou teorias. A verdadeira sabedoria, que brota do temor do Senhor, floresce na humildade – reconhecendo que não sabemos tudo – e na compaixão – buscando ativamente consolar e apoiar, em vez de acusar. O consolo genuíno é como um bálsamo aplicado com mãos cuidadosas, não como pedras atiradas de longe.
Que possamos examinar nosso coração com honestidade. Temos sido rápidos em diagnosticar a dor alheia ou prontos para oferecer um ombro amigo e ouvidos atentos? Que Deus nos livre da lógica fria e ferina de Elifaz e nos ensine a arte sublime do consolo que flui diretamente do Seu coração compassivo. Busque ser essa presença que cura, que acolhe, que aponta para a graça mesmo em meio ao mistério.
Oração: Deus de Verdade e Compaixão, que conheces nosso coração e vês as dores que não podemos expressar. Livra-nos, Pai, da tentação de julgar nossos irmãos e irmãs como Elifaz fez com Jó. Perdoa nossa arrogância e nossa lógica fria que tantas vezes ignora a Tua graça e a complexidade da vida. Enche-nos de humildade para reconhecer que não sabemos tudo, e de empatia para acolher a dor alheia com amor e presença, assim como Jesus faria. Que sejamos fontes de consolo verdadeiro, não de palavras que ferem. Em nome de Jesus, Amém.
Pense sobre isso:
Você já foi alvo de julgamentos ou acusações infundadas durante um período difícil? Como se sentiu e como reagiu?
Qual a diferença fundamental entre a lógica de Elifaz (sofrimento = prova de pecado) e a perspectiva bíblica mais ampla sobre o sofrimento?
Como podemos desenvolver, na prática, a habilidade de oferecer consolo empático em vez de explicações ou soluções rápidas?
A verdadeira sabedoria consola com empatia, não acusa com teorias.
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