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O Silêncio que Grita

Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

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O grito do oprimido sobe aos céus; será que encontra ouvidos atentos?

"Das cidades sobem os gemidos dos moribundos, e os feridos clamam por socorro. Mas Deus não lhes imputa maldade!" (Jó 24:12 NVI)

Introdução:

Há um tipo de silêncio que é ensurdecedor: o aparente silêncio de Deus diante da injustiça gritante que vemos no mundo. Olhamos ao redor e vemos a opressão, a exploração, o sofrimento de inocentes, e nosso coração clama junto com o salmista: "Até quando, Senhor?" (Salmo 13:1). Por que o Todo-Poderoso, o Justo Juiz, não intervém de forma mais clara e imediata? Por que parece que os dias de juízo não são marcados em Sua agenda cósmica para que todos vejam?


Essa é a angústia que Jó derrama diante de Deus e de seus amigos no início do capítulo 24. Ele não está mais falando apenas de seu sofrimento pessoal, mas amplia seu olhar para a vasta paisagem da injustiça social que parecia correr solta e impune sob o sol. Ele descreve com detalhes dolorosos a situação dos vulneráveis e questiona o aparente descaso divino. É um texto difícil, que nos confronta com a dura realidade do mal neste mundo e com o mistério dos tempos de Deus. Vamos nos aproximar com humildade do coração sofredor de Jó e buscar entender como lidar com essa tensão em nossa própria fé.


Jó começa perguntando diretamente a Deus: "Por que o Todo-poderoso não marca tempos?" (v. 1a). Por que os dias de acerto de contas, os julgamentos públicos, não são agendados para que aqueles que conhecem a Deus ("os que o conhecem") possam testemunhar Sua justiça em ação (v. 1b)? É um anseio por clareza, por ordem moral visível num mundo caótico. É o desejo de ver Deus agindo de forma inequívoca contra o mal, para que a fé seja vindicada e a esperança fortalecida. Quem de nós, ao ver uma notícia de corrupção ou violência, não desejou que um raio divino resolvesse a situação imediatamente? Jó expressa essa frustração humana universal.


Então, Jó pinta um quadro desolador das injustiças que ele observa (v. 2-11). São cenas que, infelizmente, ainda ecoam em nossos dias. Homens perversos roubam terras alterando limites (v. 2), levam o gado alheio, e exploram os mais fracos, tirando o jumento dos órfãos e o boi das viúvas como penhor (v. 3) – privando-os de seus meios de subsistência. Os necessitados são empurrados para fora do caminho, forçados a se esconder (v. 4). Vivem como animais selvagens no deserto, buscando alimento para si e seus filhos (v. 5), colhendo o que não plantaram ou trabalhando em condições análogas à escravidão (v. 6, 10-11). Passam a noite nus, sem abrigo contra o frio (v. 7), molhados pelas chuvas das montanhas (v. 8). Os órfãos são arrancados do seio materno (v. 9). São imagens de profunda miséria, exploração e vulnerabilidade. Jó não desvia o olhar dessa dura realidade.


E o clímax de sua observação dolorosa vem no versículo 12: "Das cidades sobem os gemidos dos moribundos, e os feridos clamam por socorro. Mas Deus não lhes imputa maldade!" (ou "não faz caso", como em outras versões). O sofrimento é extremo, o clamor por ajuda é desesperado, mas, da perspectiva de Jó naquele momento de angústia, Deus parece indiferente, omisso. É talvez a declaração mais difícil de todo o livro, pois toca no nervo exposto da nossa fé quando confrontada com o mal e o sofrimento aparentemente sem resposta. Onde está Deus quando Seus filhos clamam e a injustiça prevalece?


É crucial entender que Jó está descrevendo sua percepção angustiada, não necessariamente a realidade última do caráter de Deus. Ele está lutando com o mistério do tempo divino e da permissão do mal. Sua honestidade, porém, é validada pela própria Escritura que registra seu lamento. Deus não nos pede para fingir que não vemos a injustiça ou que não nos sentimos perturbados pelo Seu aparente silêncio. Ele nos convida a trazer essa dor, essa perplexidade, a Ele.

Embora Jó não tivesse a revelação completa que temos hoje, sabemos que Deus não é indiferente. Toda a história da redenção, culminando em Jesus Cristo, é a prova do Seu envolvimento apaixonado com a dor humana e a injustiça. Ele se importa tanto que Ele mesmo entrou em nosso sofrimento. Contudo, Seus tempos e Seus métodos para exercer a justiça final pertencem à Sua soberania. O salmista, em outro momento de angústia semelhante, encontra consolo nesta verdade:

"Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor. Defendes o órfão e o oprimido, a fim de que o homem, que é pó, já não inspire terror." (Salmo 10:17-18 NVI)   

Deus ouve. Deus vê. Deus age, mesmo que em um tempo que transcende nossa compreensão imediata.


A passagem de Jó 24:1-12, portanto, nos deixa com uma tensão santa. Por um lado, somos chamados a ter os olhos abertos para a injustiça e o sofrimento no mundo, a nos compadecermos e a clamar a Deus por intervenção. Por outro, somos chamados a confiar na soberania e na justiça final de Deus, mesmo quando Ele parece silencioso ou Sua ação demorada. Não temos respostas fáceis para o problema do mal, mas temos um Deus que é bom, justo e que prometeu enxugar toda lágrima no final.


Que a dor do mundo, como descrita por Jó, mova nosso coração à compaixão e à ação justa onde pudermos. Que o aparente silêncio de Deus não nos leve ao desespero, mas a uma fé mais profunda que confia em Seu caráter e espera em Seu tempo. E que nosso clamor por justiça seja sempre temperado pela humildade de quem sabe que não compreende todos os Seus caminhos.

Não desvie o olhar da dor do mundo, nem da sua própria perplexidade. Leve ambos a Deus. Clame por justiça, pratique a misericórdia e confie que o Juiz de toda a terra fará o que é certo no tempo perfeito.


Oração: Deus de Justiça e Pai dos Oprimidos, nossos corações doem ao ver tanta injustiça e sofrimento no mundo, como Jó descreveu. Confessamos nossa perplexidade e, às vezes, nossa impaciência diante do Teu aparente silêncio. Ajuda-nos a manter os olhos abertos para a dor alheia e a agir com compaixão e justiça onde pudermos. Acima de tudo, firma nossa fé em Teu caráter bom e justo, e em Tua promessa de que um dia toda lágrima será enxugada e toda injustiça será corrigida. Dá-nos paciência para esperar em Teu tempo e confiança em Tua soberania. Em nome de Jesus, Amém.


Pense sobre isso:


  1. Como você lida pessoalmente com as notícias e as realidades de grande injustiça e sofrimento no mundo? Qual sua primeira reação?

  2. O "silêncio de Deus" já foi uma luta em sua vida de fé? Como você atravessou (ou está atravessando) esse período?

  3. Além de orar, que ações práticas podemos tomar (individualmente ou como comunidade) para aliviar o sofrimento dos oprimidos e promover a justiça ao nosso redor?

Mesmo no silêncio aparente, Deus ouve o clamor do justo e Sua justiça não dorme para sempre.

"Você também pode nos ajudar a levar essa mensagem de esperança e fé a outras pessoas, compartilhando esse conteúdo e apoiando nosso ministério com suas orações e doações. Acesse o link e saiba como: www.propagandoapalavra.com.br/ajude-o-ministério. E não deixe de compartilhar esta reflexão com seus amigos e familiares! Gostou deste post?


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