O DEUS QUE VÊ

Por: Pastor Flávio Macieira - 2025 | Dia 3 da série "A PRESENÇA QUE ACOLHE"

Há momentos na vida em que o deserto parece ser o nosso único endereço. Talvez você conheça essa sensação. É quando fugimos de uma situação insuportável, de relacionamentos quebrados, de promessas desfeitas, e nos encontramos sozinhos, sem rumo, sob um sol escaldante de desespero. Olhamos para trás e vemos a ponte queimada. Olhamos para frente e vemos apenas mais areia. Nesse lugar, a solidão não é apenas um sentimento; é a própria paisagem. E a pergunta que ecoa no coração é: "Alguém se importa? Alguém sequer sabe que estou aqui?".

Essa foi a experiência de Agar. Uma escrava, usada, descartada e agora fugitiva no deserto, grávida e sem futuro. Ela é a personificação da invisibilidade, da pessoa cuja dor parece não contar para ninguém. Ela senta-se junto a uma fonte, não porque tenha esperança, mas porque não tem mais para onde ir. E é ali, no seu ponto mais baixo, no epicentro da sua solidão, que o Deus invisível se torna visível.

A Escritura nos conta esse encontro transformador:

“O Anjo do Senhor encontrou Agar junto a uma fonte no deserto, no caminho de Sur, e lhe perguntou: ‘Agar, serva de Sarai, de onde você vem e para onde vai?’. Ela respondeu: ‘Estou fugindo de minha senhora, Sarai’. Então o Anjo do Senhor lhe disse: (...) ‘Você dará à luz um filho e lhe dará o nome de Ismael, pois o Senhor ouviu seu choro de aflição’. Agar deu ao Senhor este nome: ‘Tu és o Deus que me vê’, pois disse: ‘Aqui eu vi Aquele que me vê!’.” Gênesis 16:7-8, 11, 13 (NVT)

"Agar, serva de Sarai, de onde você vem e para onde vai?". A primeira coisa que Deus faz não é dar uma ordem, mas fazer uma pergunta. Ele a chama pelo nome. Ele reconhece a sua identidade, a sua história, a sua dor. Naquele momento, Agar deixa de ser invisível. Alguém a viu. E não apenas a viu, mas ouviu o seu "choro de aflição".

Eu confesso que muitas vezes me sinto como Agar, achando que minha dor é particular demais, insignificante demais para o Deus que governa galáxias. Mas este encontro nos revela um Deus cujo olhar atravessa desertos e multidões para encontrar o indivíduo. E o nome que Agar dá a Deus é, talvez, um dos nomes mais íntimos e reconfortantes de toda a Bíblia: El Roi, "O Deus que me vê". Não é o Deus que pode ver, ou o Deus que vê às vezes. É o Deus cuja natureza é ver.

Isso muda radicalmente a nossa experiência da solidão. A solidão prospera na mentira da invisibilidade. Mas a verdade do evangelho é que nunca estamos fora do campo de visão de El Roi. Mesmo quando nos sentimos no deserto mais esquecido, Seus olhos estão sobre nós. Ele vê nossas lágrimas, Ele ouve nosso choro silencioso, Ele conhece a nossa história. A presença que acolhe começa com a certeza de sermos vistos.

Que tal abrirmos os olhos para o Deus que nos vê hoje?

Vá para um lugar onde você possa ficar em silêncio por alguns minutos. Feche os olhos e traga à mente a imagem do seu "deserto" atual, a situação que mais o faz sentir-se só e invisível. Agora, visualize os olhos de Deus, cheios de compaixão, fixos em você naquele exato lugar. Ore simplesmente: "Senhor, El Roi, Tu és o Deus que me vê. Obrigado por não ter virado o rosto. Obrigado por ver minha dor". Permaneça nessa consciência de ser visto.

Para que o olhar de Deus se torne a nossa companhia constante, vamos refletir juntos:

• Como a história de Agar desafia a sua percepção sobre quem Deus se importa em "ver"?

• O que muda em sua oração saber que você está falando com El Roi, o Deus que já está vendo você antes mesmo de você falar?

• Se você realmente acreditasse que Deus o vê em cada momento, como isso mudaria sua reação ao sentimento de solidão?

Vamos nos apresentar diante do Deus que nos vê.

Senhor, El Roi, Tu és o Deus que me vê. Eu confesso que muitas vezes me sinto perdido no deserto, invisível e esquecido. Perdoa-me por duvidar do Teu olhar. Hoje, eu escolho crer que Teus olhos estão sobre mim. Tu vês minha luta, Tu ouves meu choro, Tu conheces meu caminho. Que a Tua presença vista seja o meu consolo e a minha força neste deserto. Em nome de Jesus. Amém.

Você nunca está tão perdido que o olhar de Deus não possa encontrá-lo.

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