Indomável

Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

Existem poderes na criação que nos lembram: não estamos no controle, mas Aquele que os criou está.

"Você consegue pescar com anzol o Leviatã...? [...] Ninguém é tão audacioso que se atreva a despertá-lo. Quem então será capaz de resistir a mim?" (Jó 41:1a, 10 NVI - adaptado)

Após apresentar o poderoso Beemote, Deus eleva ainda mais o nível em Sua resposta a Jó. No capítulo 41, Ele dedica uma descrição detalhada e poética a outra de Suas criaturas: o Leviatã. Seja um crocodilo gigante, uma baleia, ou uma representação mítica das forças primordiais do caos aquático, a imagem que Deus pinta é de um ser de poder aterrador e natureza absolutamente indomável pelo homem. Este é o "gran finale" da lição divina sobre poder e soberania.

Deus inicia com uma série de perguntas retóricas que estabelecem a futilidade de qualquer tentativa humana de capturar ou domesticar esta criatura: "Você consegue pescar com anzol o Leviatã ou prender sua língua com uma corda?" (v. 1). A resposta implícita é um sonoro não. Ele continua: você pode fazer dele um animal de estimação? Fazer um acordo com ele para que te sirva? (vv. 4-5). Pode encher sua pele de arpões? (v. 7). A simples ideia é absurda; a mera visão do Leviatã já derrubaria qualquer um (v. 9).

Em seguida, Deus detalha as características que tornam o Leviatã tão temível: seus dentes ameaçadores (v. 14), suas escamas como couraça impenetrável (vv. 15-17), o fogo e a fumaça que parecem sair de sua boca e narinas (vv. 18-21 – talvez uma descrição poética de sua respiração ou ferocidade), seu pescoço forte onde reside o "desespero" (v. 22), seu coração duro como pedra de moinho (v. 24). Até as ondas do mar parecem ferver quando ele se move (v. 31). Ele é descrito como "rei sobre todos os orgulhosos" (v. 34). É o retrato de um poder bruto, primordial, que não se submete a ninguém.

Mas qual é o ponto teológico aqui? Deus não está apenas dando uma aula de zoologia fantástica. Ele usa o Leviatã como Sua maior ilustração para Jó (e para nós). A lição culmina nos versículos 10 e 11: "Ninguém é tão audacioso que se atreva a despertá-lo [o Leviatã]. Quem então será capaz de resistir a mim? Quem primeiro me deu alguma coisa, que eu lhe deva pagar? Tudo o que há debaixo dos céus me pertence."   

A lógica é clara e esmagadora: se você, mero humano, não ousa nem provocar uma das criaturas de Deus, como ousa contender, questionar ou exigir explicações do próprio Criador de todas as coisas? Se armas humanas são inúteis contra as escamas do Leviatã (vv. 26-29), quão infinitamente mais fútil é tentar lutar contra a vontade soberana do Deus Todo-Poderoso?

O Leviatã, portanto, torna-se um símbolo do poder absoluto e da soberania de Deus, que está muito além da nossa capacidade de controlar, manipular ou mesmo compreender totalmente. Tentar "pescar" Deus com nossos argumentos ou "fazer um acordo" com Ele baseado em nossos méritos é tão impossível quanto tentar domesticar o Leviatã.

Essa lição nos chama a uma profunda reverência e temor diante de Deus. Não um medo paralisante, mas um respeito cheio de admiração por Aquele cujo poder é tão vasto. Nos convida à submissão à Sua soberania, reconhecendo que Ele é Deus e nós não somos. "Tudo o que há debaixo dos céus me pertence", Ele afirma (v. 11), lembrando-nos que não temos nada a exigir Dele; tudo o que temos é dádiva.

Isso também nos traz conforto e segurança. O Deus que criou e, implicitamente, controla o Leviatã – essa força que parece representar o caos e o poder indomável – é o mesmo Deus que nos ama e cuida de nós. Se Ele é mais poderoso que o Leviatã, então Ele é mais poderoso que qualquer força, qualquer circunstância, qualquer "monstro" que possa nos ameaçar. Nossa segurança não está em nossa força, mas na Dele. Como o profeta Isaías nos lembra da incomparabilidade de Deus:

 "'Com quem vocês me compararão? Quem se assemelha a mim?', pergunta o Santo. Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome. Tão grande é o seu poder e tão imensa a sua força, que nenhuma delas deixa de comparecer!" (Isaías 40:25-26 NVI)   

Que possamos aprender a lição do Leviatã: render-nos em humildade e confiança Àquele cujo poder e sabedoria não têm fim.

Desafio: Pense nas "forças indomáveis" que te assustam ou te fazem sentir fora de controle (seja uma situação caótica no mundo, uma luta pessoal, um medo profundo). Lembre-se do Leviatã e, mais importante, do Deus que o fez e o governa. Faça uma oração entregando essas áreas ao controle soberano de Deus, escolhendo confiar em Seu poder protetor em vez de tentar lutar sozinho.

Oração: Deus Todo-Poderoso, Criador de todas as maravilhas, visíveis e invisíveis, Tu és temível em Tua majestade! Reconhecemos, como Jó foi levado a fazer, que somos pequenos e que Teu poder é insondável. Perdoa nossa tolice quando tentamos lutar contra Ti ou duvidar da Tua soberania. Colocamos nossa confiança em Teu poder que é maior que qualquer Leviatã, qualquer caos, qualquer medo. Guarda-nos e sustenta-nos com Tua forte mão. Em nome de Jesus, amém.

Hora de Refletir:

1. Qual aspecto da descrição do Leviatã mais te impressiona ou te ensina sobre o poder de Deus?

2. Como a ideia de que Deus é mais poderoso do que a criatura mais temível pode trazer segurança à sua vida?

3. Em que sentido a rendição à soberania de Deus pode ser mais libertadora do que tentar manter o controle?

Diante do poder que criou e domina o Leviatã, a única resposta sensata é a rendição humilde e a confiança absoluta.

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