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A Soberania que Assusta: Jó Diante do Deus Imutável

Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

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Contemplar a soberania de Deus pode trazer tanto assombro quanto segurança.

"Ele cumpre o que me está destinado; e como isso há muitas outras coisas com ele." (Jó 23:14 NVI)

Introdução:

Após expressar seu anseio por encontrar Deus e sua fé resiliente de que Ele conhece seu caminho e o purificará (Jó 23:1-12), Jó agora muda o foco. Sua contemplação se volta para um aspecto do caráter divino que, do ponto de vista de quem sofre, pode ser profundamente perturbador: a soberania absoluta e imutável de Deus. Nesta seção final do capítulo 23 (versículos 13-17), Jó reflete sobre o poder inflexível de Deus e Seus decretos, e a reação que isso provoca em seu coração não é primariamente de conforto, mas de temor e angústia.


Como podemos lidar com essa faceta do poder divino, especialmente quando parece que Seus decretos incluem nossa própria dor? A honestidade de Jó nos convida a explorar essa tensão sem respostas fáceis.


Jó começa com uma afirmação poderosa sobre a natureza de Deus: "Mas ele permanece inflexível; quem o pode dissuadir? Ele faz o que quer." (v. 13). Deus é único ("está só", em outras traduções), Seus propósitos são firmes e Sua vontade se realiza. Ninguém pode argumentar com Ele ou fazê-Lo mudar de ideia. Essa verdade da imutabilidade e soberania de Deus é um pilar da fé – cremos em um Deus confiável, cujas promessas não falham e cujo plano não pode ser frustrado. Em tempos de paz, isso nos traz segurança. Mas, para Jó, no olho do furacão, essa mesma verdade assume um contorno assustador.


Ele aplica essa soberania diretamente à sua situação: "Ele cumpre o que me está destinado; e como isso há muitas outras coisas com ele." (v. 14). Jó interpreta seu sofrimento excruciante não como um acidente ou uma falha no controle divino, mas como algo decretado, destinado por Deus para ele. E ele percebe que seu caso não é único; Deus tem muitos outros planos ("muitas outras coisas") igualmente insondáveis em Sua mente soberana. Essa percepção de estar vivendo um destino de dor traçado pelo próprio Deus é o que o leva ao pavor. Não é uma crise de fé sobre a existência de Deus, mas uma crise existencial diante da natureza do Seu poder e dos Seus decretos impenetráveis quando vistos da perspectiva do sofrimento.


A reação emocional de Jó é visceral: "Por isso, fico apavorado diante dele; pensar nisso me enche de medo. Deus fez o meu coração desfalecer; o Todo-poderoso causou-me pavor." (v. 15-16). Não há como suavizar isso. Jó está com medo de Deus. Medo de Seu poder incontrolável, de Sua vontade que parece incluir tanto sofrimento para ele. É o temor que surge não da reverência apenas, mas da percepção da própria pequenez e impotência diante de um poder imenso que, no momento, parece estar voltado contra ele.


E então vem uma das declarações mais intrigantes: "Contudo, não fui silenciado pela escuridão, nem pela densa treva que cobre o meu rosto." (v. 17). Jó afirma que o que o apavora e o silencia (ou o faz desfalecer) não é a escuridão em si (seu sofrimento, suas perdas), mas o próprio Deus por trás dela, Aquele que "designou" essas trevas para ele. É um reconhecimento profundo de que sua luta final não é contra as circunstâncias, mas contra o Soberano que as ordena ou permite.


O que aprendemos com essa honestidade brutal de Jó? Primeiro, que é legítimo sentir temor e até pavor diante da manifestação do poder soberano de Deus, especialmente quando ele se cruza com nosso sofrimento. Fingir que não sentimos medo ou confusão não é sinal de fé forte.


Segundo, que mesmo nesse temor, a fé pode coexistir. Jó está apavorado, mas ainda está falando com Deus (ou sobre Ele), ainda está engajado, não se afastou em total rebeldia.


Terceiro, ele nos lembra que nossa segurança última não pode estar em nossa capacidade de entender ou controlar os decretos de Deus, mas em nossa confiança em Seu caráter, que é revelado de forma mais completa em outros lugares – um caráter que, apesar da soberania que pode nos assustar, é também fundamentalmente bom, justo e amoroso.


O apóstolo Paulo, séculos depois, também se debruçou sobre a profundidade da sabedoria e dos decretos de Deus, chegando a uma conclusão de adoração e humildade:

"Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!" (Romanos 11:33 NVI)   

Reconhecer nossa incapacidade de sondar completamente a mente de Deus não nos leva ao desespero, mas à adoração humilde e à confiança Naquele que sabe todas as coisas e cujo propósito final é bom.


Que a contemplação da soberania de Deus nos leve, sim, a um santo temor e a um reconhecimento de nossa pequenez. Mas que esse temor não nos paralise. Que ele nos impulsione a buscar refúgio Naquele que, sendo Soberano, escolheu Se revelar como Pai amoroso e Salvador gracioso em Jesus Cristo. A mesma mão que decreta é a mão que sustenta. O mesmo poder que assusta é o poder que salva. Nossa paz não está em entender os decretos, mas em confiar no Decretador.


Sente-se intimidado pela soberania de Deus, especialmente quando enfrenta dificuldades? Não fuja desse sentimento, mas leve-o ao próprio Deus. Confesse seu medo, sua falta de compreensão. Peça a Ele que revele não necessariamente Seus planos secretos, mas Seu coração paterno e Sua graça sustentadora em meio ao mistério. Encontre segurança não na ausência de poder divino, mas na certeza de que esse poder é exercido por um Deus que é bom.


Oração: Soberano Senhor, Deus Todo-Poderoso, reconhecemos Teu poder infinito e a profundidade insondável dos Teus caminhos. Confessamos que, por vezes, Tua soberania nos assusta, especialmente quando enfrentamos sofrimentos que não compreendemos. Pedimos perdão por nossa tentativa de Te limitar ou de exigir explicações que não nos cabem. Ajuda-nos a descansar não em nosso entendimento, mas em Teu caráter imutável: Tu és bom, Tu és justo, Tu és amor. Que o temor reverente nos leve à adoração e a confiança em Tua graça nos dê paz, mesmo em meio aos Teus decretos misteriosos. Em nome de Jesus, Amém.


Pense sobre isso:


  1. Como a ideia da soberania absoluta de Deus impacta sua vida de oração e confiança, especialmente em tempos difíceis?

  2. Qual a diferença entre o "santo temor" (reverência e respeito) e o "pavor" que Jó descreve sentir? Como podemos cultivar o primeiro sem sermos paralisados pelo segundo?

  3. Quando você não entende os "porquês" de Deus, em quais aspectos do caráter Dele você pode se ancorar para manter a fé?

A soberania de Deus é um mistério; nossa segurança está em confiar no caráter do Soberano.

"Você também pode nos ajudar a levar essa mensagem de esperança e fé a outras pessoas, compartilhando esse conteúdo e apoiando nosso ministério com suas orações e doações. Acesse o link e saiba como: www.propagandoapalavra.com.br/ajude-o-ministério. E não deixe de compartilhar esta reflexão com seus amigos e familiares! Gostou deste post?


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