A REALIDADE DA FERIDA
- Flávio Macieira
- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Por: Pastor Flávio Macieira - 2025
Série: Firmes sob Fogo (Dia 1/3)

Imagine um soldado medieval, coberto da cabeça aos pés por uma armadura reluzente. Ele está treinado, posicionado na muralha, pronto para a batalha. Ele desvia de lanças e se protege de golpes de espada. Mas então, um arqueiro inimigo, com um olhar aguçado, encontra a única fresta desprotegida – uma pequena junção entre as placas de metal – e dispara uma flecha precisa. A dor é aguda, profunda e surpreendente. Não foi o tamanho da arma, mas sua precisão cirúrgica que o derrubou.
Meu caro pastor, esta é a natureza da crítica no ministério. Podemos estar revestidos com a armadura da sã doutrina, do preparo teológico e da experiência, mas uma palavra, dita no momento certo e no lugar certo, encontra a fresta desprotegida do nosso coração. A crítica pastoral não é um feedback impessoal sobre um produto; é uma avaliação da nossa pregação, da nossa liderança, do nosso caráter, às vezes até da nossa família. É por isso que dói tanto. E fingir que não dói não é um sinal de força, mas o primeiro passo para deixar a ferida infeccionar em silêncio.
Antes de buscarmos a cura, precisamos ter a coragem de admitir a ferida. Neemias, o grande reconstrutor, nos mostra o caminho com uma honestidade brutal:
"Sambalate ficou furioso quando soube que estávamos reconstruindo o muro. Zombou de nós com desprezo e perguntou: 'O que vocês estão fazendo? [...] Esse muro de pedras que estão construindo? Se uma raposa subir nele, o derrubará!'. Então orei: 'Ouve, ó nosso Deus, que estamos sendo desprezados!'." (Neemias 4:1-4a, NVT)
Observe a primeira reação de Neemias. Ele não ignorou o insulto. Ele não respondeu com uma frase de efeito teológica sobre como "críticas não o abalam". Ele sentiu a ponta afiada do desprezo e da zombaria. E o que ele fez com essa dor? Ele a levou, crua e sem filtros, diretamente a Deus. "Ouve, ó nosso Deus, que estamos sendo desprezados!". Essa é uma das orações mais honestas da Bíblia. É o reconhecimento de um líder que admite: "Senhor, isso doeu. Essas flechas me atingiram."
A espiritualidade falsa nos diz para "não ligarmos" para a opinião dos outros. A sabedoria bíblica, no entanto, nos convida a levar o que sentimos na presença de Deus. Validar a dor não é se afundar nela; é o primeiro e indispensável passo para a cura. Quando admitimos a realidade da ferida diante do Médico das almas, abrimos o caminho para que Seu bálsamo comece a agir.
Para que esta verdade comece a curar as feridas em seu coração, é preciso um passo de honestidade radical.
Pense em uma crítica específica que o feriu recentemente. Em vez de ensaiar respostas mentais ou se afundar na amargura, pegue um caderno e escreva uma oração curta e honesta, como Neemias. Diga a Deus exatamente onde doeu e por quê. Termine a oração com a frase: "Senhor, eu admito a dor desta ferida e a entrego em Tuas mãos para que a cures."
A verdadeira cura começa quando olhamos para a ferida sem medo e sem fingimento.
Qual tipo de crítica mais o atinge: sobre sua pregação, sua liderança, seu caráter ou sua família? Por quê?
Você tende a internalizar a crítica, remoendo-a por dias, ou a externalizá-la com raiva e autodefesa? O que isso diz sobre onde você busca sua validação?
Você acredita que ser honesto com Deus sobre a dor da crítica é um ato de fé ou um sinal de fraqueza?
Agora, levemos nossas feridas, abertas e honestas, à presença do Deus que sara.
Senhor, eu venho a Ti não como um super-homem, mas como Teu servo ferido. As flechas da crítica doem, e eu confesso que muitas vezes tento escondê-las ou curá-las com minhas próprias forças, apenas piorando a inflamação. Como Neemias, eu clamo: 'Ouve, ó Deus, a dor que estou sentindo'. Peço que o Teu Espírito comece a limpar esta ferida, não com negação, mas com a verdade do Teu amor e da Tua aprovação, que é tudo o que realmente importa. Em nome de Jesus, Amém.
Um coração que parou de sentir a dor da crítica talvez seja um coração que parou de se importar.










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