A humildade precede a verdadeira sabedoria.
- Flávio Macieira
- 26 de mar.
- 5 min de leitura
Por: Pastor José Flávio Macieira — 2025

A Ilusão da Sabedoria Exclusiva
"Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti só limitaste a sabedoria?" (Jó 15:8)
Nesta nova investida verbal, Elifaz, o temanita, eleva o tom de sua crítica a Jó, transitando da acusação de palavras vazias para um ataque direto à sua presunção. Suas perguntas retóricas são afiadas como lanças, buscando desmantelar qualquer vestígio de autoridade ou sabedoria que Jó possa reivindicar em meio ao seu sofrimento. A essência da argumentação de Elifaz reside na crença de que Jó se considera superior, como se tivesse acesso a um conhecimento divino exclusivo, inacessível aos demais.
"És tu, porventura, o primeiro homem que nasceu? Ou foste formado antes dos outeiros?", questiona Elifaz, ironizando a possibilidade de Jó possuir uma sabedoria ancestral ou primordial. A implicação é clara: Jó não é único, não é o pioneiro do conhecimento, e sua perspectiva, por mais dolorosa que seja, não pode se sobrepor à sabedoria acumulada pela tradição e pela experiência dos mais velhos.
A acusação se intensifica com a pergunta central: "Ou ouviste o secreto conselho de Deus e a ti só limitaste a sabedoria?". Aqui, Elifaz toca em um ponto sensível: a pretensão de conhecer a mente divina. Ele sugere que Jó, em suas lamentações e questionamentos, estaria se colocando em um patamar de intimidade com Deus que ninguém mais alcançou, arrogando para si uma compreensão única dos mistérios celestiais.
A sequência de perguntas reforça essa ideia de superioridade imaginada: "Que sabes tu, que nós não saibamos? Que entendes, que não haja em nós?". Elifaz busca desqualificar a experiência pessoal de Jó, equiparando-a à sabedoria coletiva dos seus amigos, que representavam a visão teológica deturpada da época. Para ele, a dor e o sofrimento de Jó não lhe conferiam uma visão privilegiada, mas apenas o obscureciam da verdade já estabelecida.
Elifaz apela então para a autoridade da idade e da experiência: "Também há entre nós encanecidos e idosos, muito mais idosos do que teu pai." Ele argumenta que a longevidade traz consigo a sabedoria, e que Jó deveria se submeter ao conhecimento e à compreensão daqueles que viveram mais tempo e, presumivelmente, aprenderam mais sobre os caminhos de Deus.
A crítica se torna ainda mais contundente quando Elifaz questiona a atitude de Jó em relação ao consolo oferecido: "Porventura, fazes pouco caso das consolações de Deus e das suaves palavras que te dirigimos nós?". Ele interpreta a persistência de Jó em sua dor e seus questionamentos como uma rejeição não apenas das palavras dos amigos, mas do próprio consolo divino que eles acreditavam estar oferecendo.
Elifaz busca então entender a origem da perturbação de Jó: "Por que te arrebata o teu coração? Por que flamejam os teus olhos, para voltares contra Deus o teu furor e deixares sair tais palavras da tua boca?". Ele vê na angústia de Jó uma rebelião contra Deus, uma explosão de ira que o leva a proferir palavras impensadas e irreverentes.
Finalmente, Elifaz conclui com uma reflexão sobre a natureza humana: "Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo? Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, que bebe a iniquidade como a água!". Com essa declaração, ele busca concentrar-se na doutrina da total depravação humana, contrastando a pequenez e a impureza do homem com a santidade e a grandeza de Deus. A implicação é que Jó, como ser humano, é inerentemente falho e pecador, e suas alegações de inocência são, portanto, infundadas.
A fala de Elifaz nos confronta com a perene tentação do orgulho espiritual. Assim como ele acusou Jó de se considerar excepcionalmente sábio, também nós podemos, em algum momento, nos iludir com a ideia de que possuímos um entendimento superior da verdade divina. Podemos nos fechar para a perspectiva dos outros, especialmente daqueles que pensam diferente de nós, e nos agarrar obstinadamente às nossas próprias convicções, como se fossem a única e absoluta verdade.
É crucial reconhecer a nossa própria limitação e a vastidão insondável da sabedoria de Deus. Como nos lembra o livro de Provérbios 11:2: "Vindo a soberba, então vem a vergonha; mas com os humildes está a sabedoria." A verdadeira sabedoria não se encontra na arrogância de crer que detemos todo o conhecimento, mas na humildade de reconhecer a nossa ignorância e a nossa dependência de Deus e dos outros.
Que possamos aprender com a advertência implícita nas palavras de Elifaz. Que não nos deixemos levar pela ilusão de uma sabedoria exclusiva, mas que busquemos sempre aprender com aqueles que nos cercam, valorizando a experiência dos mais velhos e a perspectiva dos diferentes. Que sejamos humildes em nossos questionamentos e abertos ao consolo e à correção. E, acima de tudo, que reconheçamos a nossa natureza humana falível e a nossa constante necessidade da graça e da misericórdia de Deus.
Desafio:
Você se identifica com alguma das acusações de Elifaz em relação a Jó? Em que áreas da sua vida você pode estar agindo com um senso de superioridade ou arrogância espiritual?
Como você tem recebido o conselho e a sabedoria de pessoas mais experientes em sua vida? Você está aberto a aprender com os outros, mesmo quando suas opiniões divergem das suas?
Reflita sobre suas reações quando se sente contrariado ou incompreendido. Você permite que a raiva o domine e o leve a proferir palavras impensadas?
Oração:
Amado Pai, reconhecemos a nossa tendência humana de nos orgulharmos de nosso conhecimento e entendimento. Perdoa-nos pelas vezes em que nos colocamos em um patamar de superioridade, crendo que possuímos uma sabedoria que nos torna melhores ou mais próximos de Ti do que os outros. Ajuda-nos a cultivar a humildade, a reconhecer a nossa limitação e a valorizar a sabedoria que reside na experiência e na perspectiva daqueles que nos cercam. Que possamos receber o consolo e a correção com um coração aberto e que a nossa comunicação seja sempre marcada pela graça e pelo respeito. Em nome de Jesus, amém.
Hora de Refletir:
De que maneiras a busca por conhecimento e entendimento pode se transformar em orgulho espiritual?
Como podemos equilibrar a confiança em nossas próprias convicções com a humildade de reconhecer que podemos estar errados?
Qual o papel da comunidade de fé em nos ajudar a manter uma perspectiva humilde e equilibrada sobre a verdade?
A vastidão da sabedoria divina nos convida a navegar nas águas da humildade, onde a profundidade do conhecimento se revela em cada onda de aprendizado.
"Você também pode nos ajudar a levar essa mensagem de esperança e fé a outras pessoas, compartilhando esse conteúdo e apoiando nosso ministério com suas orações e doações. Acesse o link e saiba como: www.propagandoapalavra.com.br/ajude-o-ministério. E não deixe de compartilhar esta reflexão sobre a ilusão da sabedoria exclusiva com seus amigos e familiares! Gostou deste post? Deixe seu comentário abaixo!".










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